Uma matéria recentemente vinculada no Jornal da Record está circulando nas redes sociais e tem causado polêmica. Segundo a repórter, uma pesquisa realizada por duas universidades renomadas apontou que o uso de medicamentos da classe de inibidores de bomba de prótons, à qual pertencem omeprazol, pantoprazol e outros, dobra o risco de câncer no estômago.
Infelizmente, quando o tema é saúde pública, a maior parte dos veículos de comunicação apenas repassem informações advindas de outras mídias, sem a opinião dos pesquisadores ou especialistas da área. O resultado, portanto, foram informações imprecisas e conclusões precipitadas. Antes de se falar sobre o estudo, entretanto, convém um pouco mais sobre as drogas.
Conforme o cirurgião do aparelho digestivo, Bruno Mariano Schmidt, os inibidores de bomba de prótons ou IBPs são medicamentos que atuam nas células do estômago, inativando o mecanismo de produção de ácido clorídrico, reduzindo assim a acidez de secreção gástrica. “Juntamente com a erradicação da bactéria Helicobacter pylori, a supressão ácida do estômago é fundamental para o tratamento de gastrites e para cicatrização de úlceras pépticas tanto gástricas como duodenais. São drogas extremamente eficazes, e desde que foram disponibilizadas em larga escala, as antigamente tão comuns cirurgias para tratamento de úlceras benignas hoje estão praticamente extintas”, explica o especialista.
Ele destaca ainda que, apesar do valor terapêutico inquestionável, o IBP, como qualquer outra classe de drogas, está relacionado a efeitos adversos dentre eles: aumento dos riscos de fraturas, pneumonia, alterações renais, infarto e acidente vascular cerebral foram observados com o uso contínuo, prolongado e em altas doses. No Brasil, esses medicamentos são utilizados por considerável parcela da população e podem ser adquiridos sem prescrição médica.
Além do uso abusivo e da automedicação, há de se levar em conta os efeitos a longo prazo na população que necessita do uso continuado de IBPs. como os portadores da doença do refluxo gastroesofágico. “Em casos mais severos, pacientes experimentam sintomas diários de azia, queimação e regugitação quando interrompem os IBPs. “Quando observada essa necessidade, especialmente em pacientes com expectativa de uso a longo prazo, torna-se cada vez mais interessante a indicação das cirurgias anti-refluxo. Atualmente feita por videolaparoscopia, possui eficácia comprovada e rápida recuperação pós-operatória”, aponta.
Outra alternativa ao uso de medicamentos é o tratamento endoscópio da doença do refluxo. Dentre as opções disponíveis, o tratamento minimamente invasivo com radiofrequência parece ser o mais eficaz. O Stretta, como é chamado, foi liberado no país e tem demonstrado equivalência ao tratamento cirúrgico, com a vantagem de não haver necessidade de nenhum corte.
O Cirurgião enfatiza que o estudo em questão, publicado pela Gut, uma das mais renomadas revistas cientificas da área de gastroenterologia, concluiu que, na população estudada, os IBPs aumentaram significativamente a incidência de câncer gástrico, e que esse incremento é proporcional à dose e ao tempo de uso do medicamento. “O estudo foi conduzido na cidade de Hong Kong e foram observados cerca de 63 mil pacientes no período de 2003 e 2012. Embora os resultados não possam ser aplicados à população brasileira, que possui incidência de câncer gástrico muito menor que a asiática – 75 vezes menor que a do Japão, por exemplo – o estudo soa um alerta e reafirma a recomendação do uso cauteloso dos IBPs”, conclui.